terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ano Novo


Receita de Ano Novo, por Carlos Drummond de Andrade (fotografia de Evandro Teixeira)

[*]
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

domingo, 3 de janeiro de 2010

TOP 20 de 2009




Não assisti tantos filmes quanto gostaria em 2009. Muitos longas (e alguns curtas) lançados que foram lançados nesse ano, não consegui assistir. Alguns que deveria, como "A Partida" e "Entre os Muros da Escola", só pra citar como exemplo. E não consegui assistir ao filme que estava mais ansioso, junto com "Bastardos Inglórios": o brasileiro "Viajo porque preciso, volto porque te amo". Sendo assim, seria injusto pensar numa lista dos melhores filmes do ano, já deixei de ver muitos dos filmes que marcaram o ano em termos de Cinema.

Dessa forma, vai aqui uma singela menção dos melhores filmes que assisti esse ano de 2009, independente de seu ano de lançamento. Detalhe que isso pode ser um mero fetiche, já que não sei até que ponto dá para se fazer uma "lista" ou algo do gênero.

Alguns destaques pessoais: o contato com as obras de Woody Allen (gênio) e Hitchcock (graças ao livro de entrevistas do Truffaut); a mostra latino americana do Festival de Gramado; "Avatar" como a melhor aventura depois de "O Senhor dos Anéis" (sem contar relevâncias do 3-D); o fenômeno "Atividade Paranormal"; os brasileiros "O Amor Segundo B. Schanberg" e "Vida de Balconista", estréia do Cavi em longas. Sem contar com o forte "A Fita Branca", que merece ser visto de novo e belo filme camaronês "Mah Sa Sah", no III Encontro de Cinema Negro e Africano.

Posto isso, vamos lá:

1. -"A Estrada da Vida", de Federico Fellini (1954, Itália)
2. -"Goodbye Solo", de Ramin Bahrani (2007, EUA)
3. -"Diários de Motocicleta", de Walter Salles (2004, Inglaterra/França/EUA/Brasil/Chile/Argentina/Peru/Cuba)
4. -"Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino (2009, EUA)
5. -"Persépolis", de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi (2007, França)
6. -"Peixe Grande", de Tim Burton (2003, EUA)
7. -"Apenas uma Vez", de John Carney (2006, Irlanda)
8. -"Janela Indiscreta", de Alfred Hitchcock (1954, EUA)
9. -"Promessas de um Novo Mundo", de Carlos Bolado e B.Z Goldberg (2001, Israel/EUA)
10. -"A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen (1985, EUA)
11. -"Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes (2005, Brasil)
12. -"Notícias de uma Guerra Particular", de João Moreira Salles (1999, Brasil)
13. -"Corumbiara", de Vincent Carelli (2009, Brasil)
14. -"O Homem que Sabia Demais", de Alfred Hitchcock (1956, EUA)
15. -"La Maison en Petits Cubes", de Kunio Katô (2008, Japão)
16. -"Um Assaltante Bem Trapalhão", de Woody Allen (1969, EUA; Woody Allen)
17. -"Paris, Te Amo", Vários (2006, França/Alemanhã/Suíça/Liechtenstein)
18. -"UP - Altas Aventuras", de Pete Docter e Bob Peterson (2009, EUA)
19. -"Gigante", de Adrián Biniez (2009, Uruguai)
20. -"Nochebuena", de Maria Camila Loboguerrero (2008, Colômbia)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

E o terror de verdade



Há uma séria possibilidade dos filmes de terror (ou horror, talvez) precisarem pagar tributo à "Bruxa de Blair" nos próximos tempos. O longa (que até hoje não vi, às vezes por falta de coragem) trouxe uma estética documental que leva ao gênero do medo um patamar particularmente poderoso: a intensificação da verossimilhança do que ocorre na tela. Isso funciona perfeitamente bem em filmes de terror, se bem empregados, porque simplesmente dá um tom de realidade algumas vezes fascinante, e simplesmente, mais medo.

Depois de "Bruxa", "Cloverfield" e "REC", que vem nessa mesma linha (e muitos anos depois do longa de 99), são bastante eficazes, com suas qualidades e defeitos ("REC" particularmente eu acho bem legal). Algumas outras coisas têm sido feitas. Não sei como estão.

Tive medo então de "Atividade Paranormal". Não do filme em si, porque pensava isso já antes de vê-lo, mas de pensar que ele era um indício de um novo filão se aproximando. Estava meio enganado, porque o filme não é apenas bom, como também provavelmente será o responsável por esse filão. O sucesso grande do longa de estréia do esperto Oren Peli vai sem dúvidas abrir os olhos dos estúdios. Já tem um "Contatos de 4° Grau" chegando. E o próprio Oren já está vindo com um "Área 51" nesses moldes. Sem contar com o filme de um jovem cineasta que foi exibido em Cannes esse ano, "Colin".

Ou seja, o grande problema das tendências é a banalização, o que pode ser uma pena para essa estética tão eficaz. Quando a criatividade deixar de ser o ponto forte desses filmes, vai ser difícil filtrar a qualidade. Pode ser que estética e interesses comerciais soberanos se misturem, ofuscando-se. Engraçado que os longas citados reciclam elementos de outros trabalhos feitos antes (principalmente o "Atividade"), mas funcionam tão bem por terem uma certa carga de experimentação; de ousadia. Espero que isso não seja diluído com um novo filão que ameaça chegar. E que se chegar, ao menos traga bons exemplares.

Mas se não trouxer, pode ser que me desiluda e vá ver "Bruxa de Blair".

[*]

 E "Atividade Paranormal" deve ser o melhor filme de terror do ano.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Diário de Sintra




É muito difícil falar de obras que transcendem palavras, ou melhor dizendo, que as dispensa em seu discurso básico. Afinal, usar palavras quando a arte não o faz, é uma tarefa no mínimo arriscada. Mas mesmo assim, ao pensar no longa "Diário de Sintra", da cineasta e artista visual Paula Gaitán, vale dizer que ela fez um trabalho claramente delicado, com forte domínio técnico, além de explorar caminhos possíveis para o documentário e o para o próprio Cinema. Além disso, é um filme altamente emocional e pessoal, autêntico, que dialoga deliberadamente com as artes visuais, alcançando um resultado no mínimo, bem vindo.

AVATAR



Em 1998, ao ganhar o décimo primeiro Oscar por "Titanic", James Camoren parafraseou seu protagonista, vivido por Leonardo DiCaprio, ao dizer a frase "eu sou o rei do mundo!" ("I'm the king of the world!''). "Avatar" cumpre, então, a lógica do que se poderia esperar do próximo passo de um diretor que havia sido o principal responsável pelo maior sucesso de bilheteria de todos os tempos e o filme mais famoso de uma geração inteiramente, possivelmente.

É um filme espetáculo, com tudo aquilo que se espera de uma experiência cinematográfica desde Spielberg e "Tubarão", trazendo ainda um contexto ecológico (interessante) em um momento totalmente oportuno, além da melhor CGI já feita até então.

Hollywood de classe.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Diários de Motocicleta



Walter Salles é um dos maiores nomes do Cinema mundial contemporâneo. Isso não é exagero: o cineasta não só é um dos grandes responsáveis pela recolocação do Cinema Brasileiro no mapa, como também simplesmente é um dos realizadores mais admirados em todo o mundo. Há algo em seus filmes, uma espécie de tom humanista muito sincero, minimalista e ao mesmo tempo poético, que encanta artistas e admiradores da sétima arte.

"Diários de Motocicleta", um dos passos mais ambiciosos do diretor até então, não é só um de seus trabalhos mais maduros, mas também um dos grandes filmes feitos na América Latina em toda a década. Isso se dá não só por (bons) méritos cinematográficos: o longa baseado na viagem de Ernesto Guevara e Alberto Granado tem o poder de respirar um continente inteiro, e isso não é pouca coisa. É uma obra de pertencimento.

São muitos os méritos do trabalho de Walter Salles: o acerto preciso de se filmar em 16mm, para dar o clima intimista necessário ao filme; as atuações igualmente precisas dos talentosos Gael Garcia Bernal e Rodrigo de la Serna (primo de segundo grau do verdadeiro "Che"), ricas em nuances; a trilha do sempre impecável Gustavo Santaollala; a fotografia e o bom uso da estética mais próxima de um estilo documental. A equipe de "Diários de Motocicleta", que ainda conta com Robert Redford como um dos produtores, sabia da empreitada artística que estava incubida ao assumir a ambição de filmar a viagem que transformou o jovem Ernesto em um dos líderes políticos mais importantes do século passado. Essa consciência, mesclada com respeito e fidelidade ao espírito dessa viagem e de seus protagonistas (todos eles, não só os viajantes, mas também quem cruzou o caminho deles e vice-versa), pode ser encontrada no filme. E é exatamente isso também que faz com que "Diários" seja especial.  

Há momentos chave para entender e sentir toda essa afirmação cultural da América Latina - inclusive como continente integrado. A própria estética já traz a sugestão. E a mão de Walter, tão presente em todo o filme, merece ao menos um destaque particular: a comovente sequência do leprosário de San Pablo. Ela é a maior prova do talento humanista de se contar estórias e histórias através do Cinema que o cineasta tem. É um momento do longa muito vivo, orgânico, que é tocante sem ser pedante. "Diários de Motocicleta" está repleto desse toque de vida; é um filme orgânico, em outras palavras.

E em momentos como esse que se evidencia o porquê do Cinema de Walter Salles ser um Cinema de respeito em todo o mundo: porque sua obra é uma obra que respeita a arte em si, e mais importante, o próprio homem.